quarta-feira, 17 de julho de 2013

Paulo Freire e as 'tias'


   Paulo Freire, o mais famoso educador brasileiro, deve estar se revirando no túmulo. O autor de “Professora sim, tia não”, criticava, em síntese, o fato de professoras aceitarem a alcunha de “tia”, sem atentar para as consequências político-pedagógicas de tal comportamento. Tia, no contexto da crítica, era a irmã solteirona que cuidava de sobrinhos e sobrinhas.
   O que diria o eminente pedagogo pernambucano, se soubesse que, numa reunião de pais – participei de uma, na semana passada -, a professora, além de aceitar ser chamada de tia, chamava os responsáveis de pai e mãe? Boa tarde, pai. Pode entrar, mãe. Dizia ela.
   Comecei oficialmente o exercício da docência na E. M. Almirante Tamandaré, em 2000. 
   No primeiro dia de aula, depois de um bate papo inicial com alunos e alunas, passei a escrever no quadro verde. Uma aluna, como é de praxe, perguntou:
   - Tio, é pra copiar.
   Escrevi meu nome no quadro, em letras garrafais e expliquei:
   - Meu nome é Iremar. Você pode me chamar de Iremar ou de professor Iremar. Tio não. Porque eu não sou irmão do seu pai, nem da sua mãe. Eu estudei para ser professor. Ninguém precisa estudar para ser tio ou tia. Os alunos e alunas aceitaram sem nenhum problema. A notícia se espalhou e todos os alunos e alunas da escola me chamavam de professor Iremar. Quando um ou outro desavisado cometia o sacrilégio de me chamar de tio, imediatamente era corrido pelo colega:
   - Tio não. Ele não é irmão do seu pai, nem da sua mãe...
   Simples assim.
   Queridos e queridas, na luta pela valorização profissional, “solteironas que cuidam dos sobrinhos” têm menos chance de obter o respeito que a categoria docente merece.
   Somos Professores e Professoras, não tios nem tias. Os responsáveis pelos alunos não são nossos pais. 
   Também não ‘damos’ aula, vendemos; não ‘ganhamos’ salário, trocamos pela nossa força de trabalho.
   Questão de respeito.

Nenhum comentário: